terça-feira, 7 de setembro de 2010

Mataram o Sidónio! - Francisco Moita Flores [Opinião]

Título: Mataram o Sidónio!
Autor: Francisco Moita Flores
N.º de Páginas: 300
PVP: 16,50 €

Sinopse:
O assassínio do Presidente da República Sidónio Pais, ocorrido em 1918, é um mistério. Apesar de a polícia ter prendido um suspeito, este nunca foi julgado. A tragédia ocorreu quando Lisboa estava a braços com a pneumónica, a mais mortífera epidemia que atravessou o séc. XX e, ainda, na ressaca da Primeira Guerra Mundial. A cidade estava exaurida de fome e sofrimento. É neste ambiente magoado e receoso que Sidónio Pais é assassinado na estação do Rossio em Dezembro de 1918. Francisco Moita Flores constrói um romance de amor e morte. Fundamentado em documentos da época, reconstrói o homicídio do Presidente-Rei, utilizando as técnicas forenses e que, de certa forma, continuam a ser reproduzidas em séries televisivas de grande divulgação sobre as virtualidades da polícia científica. Os resultados são inesperados e (Morro Bem. Salvem a Pátria?) é um verdadeiro confronto com esse tempo e as verdades históricas que ao longo de décadas foram divulgadas, onde o leitor percorre os medos e as esperanças mais fascinantes dessa Lisboa republicana que despertava para a cidade que hoje vivemos. E sendo polémico, é terno, protagonizado por personagens que poucos escritores sabem criar.
Considerado um dos mestres da técnica de diálogo, Moita Flores provoca no leitor as mais desencontradas emoções que vão da gargalhada hilariante ao intenso sofrimento. Um romance que vem da História. Uma história única para um belo romance. A Polícia confundira todos aqueles que odiavam Sidónio e a sua política cesarista com assassinos em potência. A Maçonaria queria vê-lo destituído, a Carbonária talvez o quisesse desfeito em migalhas, os católicos queriam mais do que o espavento das missas em que o Presidente participava, os integralistas exigiam uma política de ruptura, os democratas odiavam-no e por aí fora. E neste quadro de ódios, os resultados a que chegara, apontavam para um miúdo de 22 anos, fascinado pelo turbilhão das sucessivas rebeliões sindicais, vaidoso da arma que mostrara a Ana Rosa… E Asdrúbal vivia com essa angústia dilacerante. Nem a arma fora recuperada, nem o rapaz, abatido como um cão, poderia ser interrogado.

A minha opinião:
Em “Mataram o Sidónio!” Francisco Moita Flores voltou a não me desiludir. Mestre da narrativa e a relatar os factos como ninguém, Moita Flores baseia-se num documento verídico, uma separata dos Archivos do Instituto de Medicina Legal de Lisboa, intitulado Exames Periciais no Cadáver do Presidente da República Dr. Sidónio Pais, no Vestuário e na Arma Agressora.
É com base neste documento que o autor dá vida a personagens que tiveram bastante destaque em Portugal e que contribuiram e muito para o desenvolvimento para as técnicas de polícia científica e análise de crimes: Azevedo Neves e Adrusbal d’ Aguiar.
Em 1918 Portugal atravessava uma fase péssima. Descontentes com a política de Sidónio Pais, os portugueses eram dizimados pela pneumónica, uma variante da H1N1 que naquela altura mataria mais portugueses do que os que estavam a combater na batalha de La Lys, na Primeira Guerra Mundial. A falta de higiene de povo português fez com que a conhecida gripe espanhola alastrasse ainda mais. E é a 14 de Dezembro deste mesmo ano que Sidónio Pais é assassinado na estação do Rossio. José Júlio Costa é apontado como o assassino, ao alvejar com dois tiros o presidente rei.
É nessa altura que entra em cena Asdrubal d’ Aguiar, director do instituto de medicina legal, que será convidado para receber o corpo de Sidónio Pais e fazer contactos para que este seja embalsamado.
No entanto, passado pouco tempo, o juíz começa a desconfiar de que a pessoa que a polícia estava a acusar de ser o assassino do Presidente da República poderia não o ser devido às suas declarações controversas e pede a Asdrubal d’ Aguiar para fazer uma autópsia ao corpo, coisa nunca vista antes. Com a autópsia Asdrubal e companheiros descobrem que Sidónio Pais não apanhou dois mas apenas um tiro e que este não podia ter sido desferido por José Júlio Costa. Aquilo que a imprensa na altura disse, relatada por testemunhas do local foi que Sidónio Pais terá sido atingido por dois tiros, mas afinal foi apenas por um, mas segundo Asdrubal d’ Aguiar, o que as pessoas viram foram dois orifícios: de entrada e saída da bala. Além disso, segundo a autópsia, o tiro foi feito à distância e não à queima-roupa como afirmou a polícia.
José Júlio Costa morreria 30 anos depois, no Hospital Miguel Bombarda, vítima de esquizofrenia, sem nunca ter sido julgado.
Claro que pelo meio Moita Flores não se esquece do romance. Glória, esposa de Asdrubal é vitimada pela pneumónica, assim como a empregada destes, juntando o viúvo e Ana Rosa, única sobrevivente da família da antiga empregada. Um livro fantástico que recomendo a ler.

Excerto: “… não se cansa de apregoar que a gente tome banho todos os dias, que lave as mãos, que mude de roupa, se estiver suja. Onde é que um homem arranja dinheiro para andar a mudar de ceroulas todos os dias. E a pele? A pele não conta? A pele é como as panelas. Conforme as vamos lavando, vão ficando mais fininhas até que abrem buracos…”

Curiosidades:
Azevedo Neves, médico legista, mais tarde secretário de Estado do Comércio a convite de Sidónio Pais, convence o próprio Presidente da República a criar os institutos de medicina legal de Lisboa, Porto e Coimbra, além da criação da Polícia da Investigação Criminal equipado com laboratórios de polícia científica.

1 comentário:

Tiago Franco disse...

Adorei a reconstituição histórica da época. O livro é sobretudo um policial a boa maneira de Hollywood. De fácil leitura, constatamos que já na altura nem tudo o que os medias dizem é verdade.

WOOK - www.wook.pt