quarta-feira, 8 de maio de 2013

Tempo para Falar - Helen Lewis [Opinião]

Título: Tempo para Falar
Autor:
Helen Lewis
N.º de Páginas: 284
PVP: 15,50 €

Helen Lewis sobreviveu a dois campos de concentração nazi.
A sua história, aterradora, hipnotizante e de uma coragem ímpar, é narrada na primeira pessoa sem o mais pequeno tom de autopiedade. Um livro de memórias, desprovido de especulações ou lições de moral, que é uma verdadeira celebração da vida.

A crítica não ficou indiferente a um testemunho pungente que nos toca o coração.
«Em Tempo para Falar, Helen Lewis traça-nos um mapa do Inferno e, ao fazê-lo, oferece-nos uma obra de arte sem mácula. Nunca põe um pé em falso ao guiar-nos através de uma paisagem de pesadelo. A sua voz não se altera, o seu estilo permanece simples. Uma forma modesta de se exprimir que esconde a angústia da recordação.» Michael Longley

«É a história de um sofrimento quase inacreditável, mas contada de uma maneira que quase infunde alegria no leitor… notável pela sua simplicidade e lucidez elegíacas, pelo ímpeto irresistível, pela integridade insuperável e pela impressionante ausência de autocomiseração e rancor. Em suma, de abordagem fácil, empolgante e de uma honestidade evidente… todos deviam lê-la.» Independent

«O que distingue este livro de todos os relatos em primeira mão do Holocausto é a capacidade evidenciada por Lewis para descobrir traços de humanidade, onde, com toda a justiça, não tinha razões para os ver… recusa-se a desumanizar mesmo aqueles que tentaram arrancar-lhe tudo quanto tinha de humano - um feito raro para qualquer pessoa na sua situação.» Guardian

A minha opinião:
Helen poderia ter sido uma grande bailarina, não não fosse judia... Mas o facto de ter tido aulas de dança e de ter dedicado o pouco da sua vida a aprender a arte fez com que a própria dança lhe tivesse salvado a vida num dos dois campos de concentração onde esteve.

Natural de Trutnov, na antiga Checoslováquia, Helen foi deportada para Terezín e mais tarde para Auschwitz. Seria neste último campo de concentração que iria viver o inferno.

Antes da deportação vivia em Praga com o marido e fazia da dança a sua profissão. Quando a Checoslováquia foi invadida pelo exército Alemão, Helen ainda recebia a visita de um elemento do exército que, até conhecer o casal judeu, não sabia o que o seu próprio exército fazia com eles. Ajudava-os no que mais precisavam, leváva-lhes comida e chegou, inclusive, a guardar os bens mais preciosos antes que estes fossem roubados pelos nazis. No entanto, não conseguiu impedir que fossem deportados para Terezín.

Em Terezín, apesar da ecassez de alimentos, a vida de Paul e Helen não era tão má como em Auschwitz para onde foram algum tempo depois. Em Terezín Helen ficaria doente de tanto trabalho e da pouca comida que ingeria, tendo de ouvir a atroz frase aquando de uma operação à zona da anca: nunca mais vai dançar.

Mas seria em Auschwitz que sofreria a bom sofrer, sempre com o medo de ir para a câmara de gás. E naquele terrível campo de concentração ninguém se podia dar ao luxo de ficar doente, porque se alguma vez precisasse de cuidados médicos, nunca mais veria a luz do dia.

Vivendo sempre em sobressalto e depois de ter sido avisada por um SS que iria no próximo comboio para um outro local, onde Helen sabia que iria ser morta, a "sorte" viria em forma de espectáculo. Em conversa com outra judia Helen disse que tinha sido bailarina e foi o que a salvou. Colocaram-na num espectáculo como bailarina e também como professora. Tinha, assim, escapado a uma morte certa.

Helen vai relatando ao longo de todo o livro os terrores pelos quais passou, mas mostra também ter sido uma mulher de coragem e uma grande mulher. Vencendo todas as adversidades, e mesmo depois de ter sabido que o seu marido Paul não tinha sobrevido, Helen nunca perdeu a esperança de vir a ser feliz e fazer da dança a sua profissão.

Casou e dedicou a sua vida a ensinar os mais novos o seu grande talento.

Mesmo sendo uma leitora "frequente" deste tipo de relatos, continuo a ficar surpreendida e chocada com toda as atrocidades perpetradas a tantos milhares de inocentes sem que nada se fizesse para evitar. O pior é que depois da queda da Alemanha nazi, as atrocidades continuaram a ser cometidas, mas desta vez por parte dos russos.

Para quem gosta do género, mais uma livro a não perder.

Excertos: 
"Em Auschwitz, «a natureza morrera com as pessoas. Os pássaros tinha fugido do fumo negro dos crematórios, que tudo empestava, e a sua partida deixara um silêncio que se assemelhava a um grito»."
"Onde antes reinava o caos, agora havia uma dança."
"Aprendemos a ouvir em silêncio, a ler nas entrelinhas, a falar pouco e a não confiar em ninguém."
"Chegámos no dia 20 de Maio de 1944. Até àquele momento, nada sabíamos sobre campos de extermínio e câmaras de gás."
"... o pior de Birkenau não eram as condições de vida, mas sim a própria vida, que era um pesadelo."
"Em Birkenau, a natureza morrera com as pessoas."



 

Sem comentários:

WOOK - www.wook.pt