quarta-feira, 10 de maio de 2017

O Ano da Dançarina - Carla M. Soares [Opinião]

Título: O Ano da Dançarina
Autor: Carla M. Soares
Editor: Marcador
Páginas: 392

Sinopse:
No ano de 1918, o jovem médico tenente Nicolau Lopes Moreira regressa da Frente francesa, ferido e traumatizado, para o seio de uma família burguesa de posses e para um país marcado pelo esforço de guerra, pela eleição de Sidónio Pais e pela pobreza e agitação social e política.

No regresso, Nicolau vê-se confrontado com uma antiga relação com Rosalinda, dançarina e amante de senhores endinheirados, e com as peculiaridades de uma família progressista.

Enquanto a Guerra se precipita para o fim e, em Lisboa, se vive a aflição da epidemia e da difícil situação política, a família experimenta o medo e perda, e Nicolau conhece um amor inesperado enquanto trava as suas próprias batalhas contra a doença e os próprios fantasmas. Este é um romance de grande fôlego, histórico, empolgante e profundo, sobre a superação pessoal e uma saga familiar num tempo de grande mudança e turbulência em Portugal.

A minha opinião: 
Depois de uma grande desgosto de amor, Nicolau Lopes Moreira decide alistar-se para a Grande Guerra, correndo o risco de morrer. 

Após ficar ferido, Nico regressa em 1918 da Frente Francesa, mas com o coração ainda partido. 
Convalescente, em casa, decide ler na biblioteca, a dezena de cartas que lhe mandam para saber da sua convalescença. Entre elas está a de Rosalina, jovem dançarina do Tetaro Almeida Garrett que o abandonou para seguir o sonho de dançar na Ópera de Paris. 

Já na capital portuguesa, Nicolau revela uma transformação drástica. Apesar de ainda gostar da jovem bailarina está conformado com o facto de que ela não é para si, e decide viver a sua vida longe de uma mulher que lhe quis tanto mal. 

"O Ano da Dançarina" é o primeiro livro que leio de Carla M. Soares e deixou-me completamente vidrada na história. Sou fã assumida de romances históricos, e a temática da Primeira e Segunda Guerra Mundial é das que mais me atrai. Saber que se passará um pouco na frente francesa, passando posteriormente para Portugal onde parte da história se passa na narração dos milhares de mortos provocados pela gripe espanhola, como vulgarmente é chamada, deixou-me entusiasmada. 

A autora escreve muito bem e elaborou uma história bastante interessante em torno da família Lopes Moreira. Desde o louco Nicolau, que parte para a guerra, para fugir ao seu coração, a César, um bon-vivant, mas um irmão dedicado, a Bernarda, uma rapariga avançada para o seu tempo, tendo recebido por parte da mãe a mesma educação que foi dada aos seus irmãos. Bernarda sabe, inclusive, conduzir e é directora de uma revista. Bernarda, a par de Cecília, foram as personagens que mais gostei, talvez pela veia jornalista que ainda há em mim. 

Adorei o enredo, o destino dado às personagens (nem todos podemos ter um final feliz, senão seria um conto de fadas e não um livro que se quer parecido com a realidade). 

Houve ainda o cuidado por parte da autora em colocar a história na História, revelando uma pesquisa vasta, quer sobre a gripe espanhola e o quanto atacou os portugueses, tanto na classe alta como na baixa, quer na reprodução da época, a política ditatorial de Sidónio Pais, resultando num romance 5 estrelas.  
De destacar o título dado ao livro, que não podia estar mais de acordo com a história.

PS. Dei-me por mim tão envolvida na história que quando alguém espirrava junto a mim pensava logo na epidemia da espanhola. 

Excerto: 
"Tudo o que vinha além da fome era «a vida». O desemprego era a vida. Outra gravidez era a vida. Uma doença era a vida. A morte de um filho, ou de muitos, era a vida. Bernarda irritava-se muitas vezes com o fatalismo português, o fado que se darramava nas canções das tabernas lisboetas, por isso admirava que se rebelava contra o estado das coisas." pag. 109



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